Julieta Palmeira*
A relação da morte do senador Antonio Carlos Magalhães com o fim de um ciclo na política na Bahia, o fim de uma era, tem repetidas vezes sido apresentada pela mídia. Entretanto, a eleição de Wagner governador foi, de fato, a interrupção de um ciclo na política baiana
O grupo do senador Antonio Carlos Magalhães esteve à frente do governo do estado durante 30 anos, com um pequeno intervalo de um ano e meio com a eleição de Waldir Pires. Apoiado por uma frente ampla de nove partidos (PT, PCdoB, PSB, PV, PMDB, PMN, PRB, PPS e PTB), Wagner do PT, derrotou nas eleições de 2006, no primeiro turno, Paulo Souto, o candidato do senador Antonio Carlos que pleiteava a reeleição. A morte de ACM se dá num momento de derrotas cumulativas, sintomas de declínio do grupo político que liderava. ACM foi derrotado nas eleições para governador, tendo perdido anteriormente a eleição para a prefeitura de Salvador. Sem contar que nas eleições presidenciais, seu candidato Geraldo Alckmin não conseguiu impedir a reeleição de Lula e foi derrotado no seu reduto.
A eleição de Wagner pôs fim à hegemonia do ''carlismo'', como ficou conhecida a corrente política comandada pelo senador.
Uma conseqüência da morte de ACM é a desagregação entre seus aliados. Por outro lado, há possibilidade de recomposição das forças políticas no campo conservador. Na ausência de ACM, o PSDB, que está no mesmo campo programático neoliberal, tenderia a se aproximar do DEM, na medida em que foram razões regionais e, principalmente, divergências tendo como centro ACM, que ditaram o afastamento dessas legendas na Bahia. Em sentido contrário, estão o apoio que o PSDB deu ao candidato vitorioso Wagner nas eleições e a continuidade do apoio ao governador eleito.
A necessidade de um novo modelo de desenvolvimento baiano, cuja eleição de Wagner abre caminho, se choca com a idéia, veiculada em órgãos de imprensa, principalmente locais, de que ACM foi o modernizador e o grande impulsionador do desenvolvimento da Bahia.
As forças políticas lideradas por Antonio Carlos Magalhães foram o pilar do regime militar e a principal representação na Bahia da política neoliberal, do capitalismo de hoje. ACM reuniu em torno de si as oligarquias tradicionais e, ao mesmo tempo, se tornou o líder das forças econômicas emergentes, representando grupos econômicos poderosos, prioritariamente industriais e financeiros, com interesses próprios. O perfil do chamado carlismo não é o da direita ruralista, do coronelismo como em outros estados. Ele foi a alternativa conservadora às velhas oligarquias.
A opção de crescer a partir do incentivo ao grande capital e sem integração com o conjunto da economia, resulta em um desenvolvimento desigual e excludente. Desigual porque cria algumas ilhas de prosperidade com investimentos realizados com a participação do grande capital e excludente porque deixa de fora a maioria dos baianos que vivem em condições sociais não condizentes com a chamada modernidade. Dados oficiais em 2004, revelam que 53,1% dos baianos vivem em situação de pobreza; a renda média obtida no trabalho principal de maiores de 15 anos é de R$ 358,00 e representa apenas 55,6% da renda real média do trabalho no Brasil, que é de R$ 640,00; o percentual de indigentes na Bahia é o dobro do percentual brasileiro; e a taxa de analfabetismo é de 20,4%, muito acima da média nacional, que é de 11,2 %, em números absolutos são 2 milhões de analfabetos. O desempenho da economia baiana não se traduz em melhores condições de vida para o povo baiano.
Há muito a se fazer no rumo de um modelo de desenvolvimento econômico com desenvolvimento social.
A luta contra o monopólio da mídia na Bahia permanece atual. A doutora em Comunicação pela Universidade Federal da Bahia, atualmente professora da Universidade Federal do Rio de Janeiro, Suzy dos Santos, no artigo Coronelismo, Radiodifusão e Voto - A Nova Face de um Velho Conceito, elaborado em conjunto com Sérgio Capparelli da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, publicado no livro Rede Globo: 40 anos de poder e hegemonia detalha o monopólio da mídia construído por ACM. Familiares do senador e aliados fiéis são proprietários da Rede Bahia, que domina todos os segmentos de comunicações no estado, seis geradoras de TV aberta e 311 retransmissoras - todas afiliadas à Rede Globo; uma emissora de TV UHF; parte de operadora de TV a cabo da capital, com outorga também em Feira de Santana; parte de uma operadora de MMDS com outorgas na capital, em três cidades do interior da Bahia e em Petrolina-PE, afiliadas à franquia Net Brasil, também da Rede Globo; duas emissoras e uma rede de rádio FM; um selo fonográfico; uma editora musical; um jornal diário; uma gráfica; e uma empresa de entretenimento.
Esse monopólio propiciou as tentativas de mudar a face do autoritarismo para a face do amor pela Bahia, que foi veiculada intensamente nos últimos dias e que da mesma forma tentou omitir também o fato de que ACM estava em declínio do poder.
*secretária de Comunicação do PCdoB/BA
A relação da morte do senador Antonio Carlos Magalhães com o fim de um ciclo na política na Bahia, o fim de uma era, tem repetidas vezes sido apresentada pela mídia. Entretanto, a eleição de Wagner governador foi, de fato, a interrupção de um ciclo na política baiana
O grupo do senador Antonio Carlos Magalhães esteve à frente do governo do estado durante 30 anos, com um pequeno intervalo de um ano e meio com a eleição de Waldir Pires. Apoiado por uma frente ampla de nove partidos (PT, PCdoB, PSB, PV, PMDB, PMN, PRB, PPS e PTB), Wagner do PT, derrotou nas eleições de 2006, no primeiro turno, Paulo Souto, o candidato do senador Antonio Carlos que pleiteava a reeleição. A morte de ACM se dá num momento de derrotas cumulativas, sintomas de declínio do grupo político que liderava. ACM foi derrotado nas eleições para governador, tendo perdido anteriormente a eleição para a prefeitura de Salvador. Sem contar que nas eleições presidenciais, seu candidato Geraldo Alckmin não conseguiu impedir a reeleição de Lula e foi derrotado no seu reduto.
A eleição de Wagner pôs fim à hegemonia do ''carlismo'', como ficou conhecida a corrente política comandada pelo senador.
Uma conseqüência da morte de ACM é a desagregação entre seus aliados. Por outro lado, há possibilidade de recomposição das forças políticas no campo conservador. Na ausência de ACM, o PSDB, que está no mesmo campo programático neoliberal, tenderia a se aproximar do DEM, na medida em que foram razões regionais e, principalmente, divergências tendo como centro ACM, que ditaram o afastamento dessas legendas na Bahia. Em sentido contrário, estão o apoio que o PSDB deu ao candidato vitorioso Wagner nas eleições e a continuidade do apoio ao governador eleito.
A necessidade de um novo modelo de desenvolvimento baiano, cuja eleição de Wagner abre caminho, se choca com a idéia, veiculada em órgãos de imprensa, principalmente locais, de que ACM foi o modernizador e o grande impulsionador do desenvolvimento da Bahia.
As forças políticas lideradas por Antonio Carlos Magalhães foram o pilar do regime militar e a principal representação na Bahia da política neoliberal, do capitalismo de hoje. ACM reuniu em torno de si as oligarquias tradicionais e, ao mesmo tempo, se tornou o líder das forças econômicas emergentes, representando grupos econômicos poderosos, prioritariamente industriais e financeiros, com interesses próprios. O perfil do chamado carlismo não é o da direita ruralista, do coronelismo como em outros estados. Ele foi a alternativa conservadora às velhas oligarquias.
A opção de crescer a partir do incentivo ao grande capital e sem integração com o conjunto da economia, resulta em um desenvolvimento desigual e excludente. Desigual porque cria algumas ilhas de prosperidade com investimentos realizados com a participação do grande capital e excludente porque deixa de fora a maioria dos baianos que vivem em condições sociais não condizentes com a chamada modernidade. Dados oficiais em 2004, revelam que 53,1% dos baianos vivem em situação de pobreza; a renda média obtida no trabalho principal de maiores de 15 anos é de R$ 358,00 e representa apenas 55,6% da renda real média do trabalho no Brasil, que é de R$ 640,00; o percentual de indigentes na Bahia é o dobro do percentual brasileiro; e a taxa de analfabetismo é de 20,4%, muito acima da média nacional, que é de 11,2 %, em números absolutos são 2 milhões de analfabetos. O desempenho da economia baiana não se traduz em melhores condições de vida para o povo baiano.
Há muito a se fazer no rumo de um modelo de desenvolvimento econômico com desenvolvimento social.
A luta contra o monopólio da mídia na Bahia permanece atual. A doutora em Comunicação pela Universidade Federal da Bahia, atualmente professora da Universidade Federal do Rio de Janeiro, Suzy dos Santos, no artigo Coronelismo, Radiodifusão e Voto - A Nova Face de um Velho Conceito, elaborado em conjunto com Sérgio Capparelli da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, publicado no livro Rede Globo: 40 anos de poder e hegemonia detalha o monopólio da mídia construído por ACM. Familiares do senador e aliados fiéis são proprietários da Rede Bahia, que domina todos os segmentos de comunicações no estado, seis geradoras de TV aberta e 311 retransmissoras - todas afiliadas à Rede Globo; uma emissora de TV UHF; parte de operadora de TV a cabo da capital, com outorga também em Feira de Santana; parte de uma operadora de MMDS com outorgas na capital, em três cidades do interior da Bahia e em Petrolina-PE, afiliadas à franquia Net Brasil, também da Rede Globo; duas emissoras e uma rede de rádio FM; um selo fonográfico; uma editora musical; um jornal diário; uma gráfica; e uma empresa de entretenimento.
Esse monopólio propiciou as tentativas de mudar a face do autoritarismo para a face do amor pela Bahia, que foi veiculada intensamente nos últimos dias e que da mesma forma tentou omitir também o fato de que ACM estava em declínio do poder.
*secretária de Comunicação do PCdoB/BA