Nesta quarta-feira, a deputada Alice Portugal (PCdoB-BA) homenageou o educador Paulo Freire durante a sessão solene da Câmara dos Deputados em memória do educador.Essa homenagem, lembrou Alice, "se dá em um momento especial para a educação no País, quando acabamos de aprovar a criação do FUNDEB e acabamos de definir, já com muitos anos de atraso, que a criança pobre não estará condenada a entrar na escola para se alfabetizar somente aos 7 anos de idade" destacou a deputada.
Veja a íntegra do discurso:
A SRA. ALICE PORTUGAL (Bloco/PCdoB-BA.)
Hoje ocupo esta tribuna com a grata satisfação de representar meu partido, o Partido Comunista do Brasil, em homenagem que esta Casa faz a esse brasileiro ilustre, o educador Paulo Freire. Essa homenagem se dá em um momento especial para a educação no País, quando acabamos de aprovar a criação do FUNDEB e acabamos de definir, já com muitos anos de atraso, que a criança pobre não estará condenada a entrar na escola para se alfabetizar somente aos 7 anos de idade. Pela primeira vez no Brasil estamos garantindo a pré-escola, estamos garantindo que a criança entre na escola pública antes dos 7 anos. Esse fundo garantirá a cobertura educacional atéo ensino médio.
E o nosso Governo propõe também um plano ousado de desenvolvimento da educação.
Paulo Reglus Neves Freire já foi aqui descrito, nasceu no dia 19 de setembro de 1921, no Recife, Pernambuco, uma das regiões mais pobres do País, onde logo cedo pôde experimentar as dificuldades da luta pela sobrevivência das classes populares. Trabalhou inicialmente no SESI e no Serviço de Extensão Cultural da Universidade do Recife. Ele foi quase tudo o que deve ser como educador, de professor de escola a criador de idéias e métodos.
Paulo Freire trouxe esperança e consciência aos milhões de analfabetos ao conjugar de forma brilhante a educação e a conscientização política na forma de uma Pedagogia do Oprimido.
Eu poderia discorrer sobre suas diversas obras, mas prefiro concentrar-me no núcleo de toda sua produção: "não existe uma educação neutra, toda educação é, em si, política", disse o nosso mestre.
E ao mesmo tempo que requalificava todo o debate sobre o papel da educação, também desmistificava os seus limites; para ele "a educação já foi tida como mágica, podia tudo, e como negativa, nada podia. Chegamos à humildade, dizia ele, ela não é a chave da transformação da sociedade".
Freire aplicou publicamente seu método, pela primeira vez, no Centro de Cultura Dona Olegarinha, um Círculo de Cultura do Movimento de Cultura Popular. Foi aplicado inicialmente com 5 alunos, dos quais 3 aprenderam a ler e escrever em 30 horas, outros 2 desistiram antes de concluir. Baseado na experiência de Angicos, onde em 45 dias alfabetizaram-se 300 trabalhadores, João Goulart, Presidente na época, chamou Paulo Freire para organizar uma Campanha Nacional de Alfabetização. Essa campanha tinha como objetivo alfabetizar 2 milhões de pessoas, em 20 mil círculos de cultura, e já contava com a participação da comunidade. Só no estado da Guanabara, Rio de Janeiro se inscreveram 6 mil pessoas.
Mas o golpe militar de 64 arrebentou com toda essa mobilização social. Paulo Freire foi considerado subversivo, foi preso e depois exilado. Essa trajetória foi emocionantemente descrita pela Deputada Luiza Erundina.
Em 1967, Freire publicou seu primeiro livro, Educação como Prática da Liberdade. O livro foi bem recebido e Freire foi convidado a ser professor visitante da Universidade de Harvard, também já descrita aqui essa brilhantepassagem da sua vida.
Finalizo dizendo que hoje, sim, a educação brasileira está concentrada nessa homenagem. Nomes já citados pelo Deputado Guilherme Menezes fazem-me pinçar da história o baiano Anísio Teixeira, que dizia, àquela época também perseguido pela ditadura, que muito já se disse sobre Educação no Brasil e os educadores nutrem um mútuo desejo pela ação.
Paulo Freire, sem dúvida, foi esse elemento nuclear da ação educativa, essa que é com certeza a maior mobilização que se pode realizar para o turno da liberdade.
E assim ele nos ensinou.
Hoje, educadores como Darcy Ribeiro, o professor Cristovam Buarque, aqui presente, e outros educadores brilhantes e pouco falados no País, como Luiz Felipe Perret Serpa, também um dos fundadores da UnB, todos mobilizaram-se pela educação, mas Paulo Freire materializou, em direção à maioria, aos mais pobres, àqueles absolutamente apartados da grande visão que é o saber em nosso País.
E ainda hoje, apesar dos passos dados com o Fundeb, com a discussão do piso salarial para o educador, precisamos remontar a essa grande onda de alfabetização, remontar à mobilização tão sonhada por Paulo Freire, para que se garanta o saber a todos os brasileiros.
Em nome do PCdoB, registro nossa homenagem ao mestre Paulo Freire e nossa esperança de que a educação venha a ser considerada, quem sabe num dia bem mais próximo, a grande prioridade da vida nacional.
Parabéns a todos os que prestam homenagem a Paulo Freire.
E o nosso Governo propõe também um plano ousado de desenvolvimento da educação.
Paulo Reglus Neves Freire já foi aqui descrito, nasceu no dia 19 de setembro de 1921, no Recife, Pernambuco, uma das regiões mais pobres do País, onde logo cedo pôde experimentar as dificuldades da luta pela sobrevivência das classes populares. Trabalhou inicialmente no SESI e no Serviço de Extensão Cultural da Universidade do Recife. Ele foi quase tudo o que deve ser como educador, de professor de escola a criador de idéias e métodos.
Paulo Freire trouxe esperança e consciência aos milhões de analfabetos ao conjugar de forma brilhante a educação e a conscientização política na forma de uma Pedagogia do Oprimido.
Eu poderia discorrer sobre suas diversas obras, mas prefiro concentrar-me no núcleo de toda sua produção: "não existe uma educação neutra, toda educação é, em si, política", disse o nosso mestre.
E ao mesmo tempo que requalificava todo o debate sobre o papel da educação, também desmistificava os seus limites; para ele "a educação já foi tida como mágica, podia tudo, e como negativa, nada podia. Chegamos à humildade, dizia ele, ela não é a chave da transformação da sociedade".
Freire aplicou publicamente seu método, pela primeira vez, no Centro de Cultura Dona Olegarinha, um Círculo de Cultura do Movimento de Cultura Popular. Foi aplicado inicialmente com 5 alunos, dos quais 3 aprenderam a ler e escrever em 30 horas, outros 2 desistiram antes de concluir. Baseado na experiência de Angicos, onde em 45 dias alfabetizaram-se 300 trabalhadores, João Goulart, Presidente na época, chamou Paulo Freire para organizar uma Campanha Nacional de Alfabetização. Essa campanha tinha como objetivo alfabetizar 2 milhões de pessoas, em 20 mil círculos de cultura, e já contava com a participação da comunidade. Só no estado da Guanabara, Rio de Janeiro se inscreveram 6 mil pessoas.
Mas o golpe militar de 64 arrebentou com toda essa mobilização social. Paulo Freire foi considerado subversivo, foi preso e depois exilado. Essa trajetória foi emocionantemente descrita pela Deputada Luiza Erundina.
Em 1967, Freire publicou seu primeiro livro, Educação como Prática da Liberdade. O livro foi bem recebido e Freire foi convidado a ser professor visitante da Universidade de Harvard, também já descrita aqui essa brilhantepassagem da sua vida.
Finalizo dizendo que hoje, sim, a educação brasileira está concentrada nessa homenagem. Nomes já citados pelo Deputado Guilherme Menezes fazem-me pinçar da história o baiano Anísio Teixeira, que dizia, àquela época também perseguido pela ditadura, que muito já se disse sobre Educação no Brasil e os educadores nutrem um mútuo desejo pela ação.
Paulo Freire, sem dúvida, foi esse elemento nuclear da ação educativa, essa que é com certeza a maior mobilização que se pode realizar para o turno da liberdade.
E assim ele nos ensinou.
Hoje, educadores como Darcy Ribeiro, o professor Cristovam Buarque, aqui presente, e outros educadores brilhantes e pouco falados no País, como Luiz Felipe Perret Serpa, também um dos fundadores da UnB, todos mobilizaram-se pela educação, mas Paulo Freire materializou, em direção à maioria, aos mais pobres, àqueles absolutamente apartados da grande visão que é o saber em nosso País.
E ainda hoje, apesar dos passos dados com o Fundeb, com a discussão do piso salarial para o educador, precisamos remontar a essa grande onda de alfabetização, remontar à mobilização tão sonhada por Paulo Freire, para que se garanta o saber a todos os brasileiros.
Em nome do PCdoB, registro nossa homenagem ao mestre Paulo Freire e nossa esperança de que a educação venha a ser considerada, quem sabe num dia bem mais próximo, a grande prioridade da vida nacional.
Parabéns a todos os que prestam homenagem a Paulo Freire.