quarta-feira, 18 de abril de 2007

Moda brasileira precisa conhecer Feira de Caruaru, diz Gil


O mundo fashion brasileiro precisa conhecer a Feira de Caruaru, no agreste pernambucano, e reconhecer o poder da moda popular, afirmou o ministro da Cultura, Gilberto Gil, em evento nesta terça-feira em São Paulo.

Ao ser questionado se isso era uma crítica aos estilistas nacionais, Gil respondeu que não, mas que era preciso estimular neles e nos que estão por vir uma "visão aberta para os aspectos da dimensão sociológica e antropológica do país".

"Não é um problema só dos estilistas, é uma coisa brasileira, essa coisa de querer ser americano, ser europeu", disse Gil a jornalistas, após falar no painel de seminários Fashion Marketing, ao lado de Paulo Borges, criador do São Paulo Fashion Week, o músico e professor da USP José Miguel Wisnik e prefeita de olinda a comunista Luciana em um debate sobre identidade brasileira.

"É um problema da mentalidade colonizada, é rescaldo do fato de termos sido um país colonizado e em muitos aspectos ainda continuarmos a ser", continuou o ministro, que vestia terno Prada, além de sapato, camisa e gravata Armani. "Só a cueca é brasileira", brincou.

A Feira de Caruaru é uma das maiores atrações do Nordeste, que se estende por três quilômetros de praças e ruas com barracas vendendo couro, calçados, vestimentas e artesanatos.

"Eles têm uma capacidade extraordinária de reciclagem, usam sobras industriais de jeans e couro e uma série de outros tecidos e materiais (...) tudo isso a partir de um design muito rudimentar, simples", disse Gil, elogiando também a cadeia produtiva da cidade. "É portanto um modelo (..), pode ser inspirador."

Gil leu um discurso de 20 minutos para a platéia composta por empresários e outros profissionais do mundo da moda. Ele propôs um "rearrajando da relação do Estado com a moda".

"Quero reverter o equívoco ou omissão do passado, e dizer a vocês (...) que a moda é hoje reconhecida pelo Ministério da Cultura como parte vital da cultura brasileira", disse Gil, seguido de aplausos do público.

"(...) a economia da moda atravessa uma crise importante que vai precisar de todas as energias governamentais e não governamentais para que possamos superá-la", disse o ministro, em referência à falta de investimentos e outros problemas do setor para enfrentar a concorrência com países como a China.

Ao ser questionado sobre algum projeto do ministério ligado à moda, Gil respondeu que neste primeiro momento só havia uma aproximação "conceitual".

Sua pasta, no entanto, poderia ajudar na articulação com outras áreas, como a do Ministério da Ciência e Tecnologia, para desenvolvimento de tecidos, e do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, que já colabora com programas de exportação.